Nas próximas décadas haverá ainda mais mudanças para cada um de nós. O panorama de transição que temos observado recentemente permite-nos viver e trabalhar com uma maior transparência, verdade e liberdade, até agora nunca vista. Mas é meu dever procurar o outro lado, pois considero fundamental ver outras perspectivas. E, por isso, hoje gostava de mostrar o que mudou mas também contrastar com aquilo que perdemos (se é que perdemos) e como podemos rapidamente ganhar uma nova forma.
Houve nos últimos anos muitas mudanças que alteraram profundamente a relação que temos com o trabalho e que estão a gerar uma grande pressão no mercado, mas escolhi apenas cinco. Cinco que entendi serem as mais paradigmáticas, e que mais diretamente afetam o nosso dia-a-dia:
Mudança 1- Os empregos e carreiras tradicionais do passado foram constrangedores e frustrantes – temos milhares de histórias de pessoas que, durante décadas, foram para o mesmo local, com as mesmas equipas e os mesmos chefes, a fazer as mesmas tarefas mas… tinham alguma previsibilidade na sua vida: de ordenado, de carreira, de progressão, de estabilidade, de expectativas.
Mudança 2 – Estar sempre sujeito às ordens de um chefe e às suas vontades e humores fez muita gente ter pesadelos, ter uma carreira sem alternativas e até mudar de emprego, mas… havia alguém para quem olhávamos e pedíamos opinião quando não sabíamos o que fazer, e alguém a quem apontar o dedo quando as coisas corriam mal.
Mudança 3 – Os empregos das nove às seis podem ter criado uma rigidez aborrecida: processos, controlo, rotina, repetição, mas… havia um ritmo conhecido e não uma relação contínua com o trabalho de 24 horas.
Mudança 4 – A abertura de oportunidades de trabalho de forma global em todo o mundo trouxe enormes benefícios e oportunidades, mas… agora estamos todos a competir com todos, o nível de competitividade subiu drasticamente e os mais fracos ficarão com menos possibilidades.
Mudança 5- A tecnologia conseguiu livrar as pessoas de tarefas desinteressantes, perigosas e onde o ser humano gerava pouco valor, mas… milhões de pessoas no mundo inteiro estão sem trabalho que foi sendo substituído pelas máquinas .
O nosso mundo mudou, e desta vez fê-lo sem avisar, e aquilo que sabemos é que vão desaparecer muitas das certezas acerca do que é o trabalho e como ele é realizado. No lugar destas certezas surgirão maiores oportunidades e mais escolhas. É o aumento das escolhas que irá criar espaço que permitirá que cada pessoa escreva o seu guia pessoal de carreira que lhe trará realização e sentido. No entanto, com estas mudanças vem a necessidade de fazer escolhas, de conseguir viver com as consequências dessas escolhas e com os compromissos que elas poderão exigir. Um dos maiores trunfos do emprego tradicional foi a certeza de uma relação paternalista, protetora: era possível deixar nas mãos da empresa as grandes decisões sobre a nossa vida profissional: a carreira, a rotação de funções, as promoções, os prémios, a formação e até a reforma.
Mas esse tempo terminou e a relação de autonomia para que estamos a caminhar é mais exigente, e mais capaz de criar significado naquilo que fazemos. Por isso, exige que cada um tenha uma abordagem mais séria, mais determinada e enérgica para concretizar as escolhas que estão à nossa disposição. Esta mudança requer reflexividade – uma nova competência, que até agora não era necessária. A reflexividade é a capacidade de refletir e tomar decisões sobre o que queremos vir a ser. Por isso digo que agora, estamos mesmo por nossa conta.
E agora, que está por sua conta, já pensou naquilo que vai fazer?